quarta-feira, 24 de junho de 2020

CONTENTAMENTO




Ora, muito me regozijo no Senhor por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo; do qual na verdade andáveis lembrados, mas vos faltava oportunidade. Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a CONTENTAR-ME com as circunstâncias em que me encontre. Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece. (Filipenses 4:10-13)

Por que nossa geração é tão infeliz? Por que em muitos casos já iniciamos o dia irritados e contrariados? Pior, por que sempre estamos em busca de algo novo? Trocamos coisas que ainda poderiam ser usadas por mais tempo por algo novo? Vivemos dias frenéticos, corremos sem um destino “logico”, estamos sedentos por ter ou ser e isso tem provocado no coração de muitos uma imensa insatisfação na vida, levando-nos ao stress, ansiedade e depressão. Estou seguro de que o remédio contra tudo isso está no contentamento, algo que nós esquecemos e pouco é ensinado ou pregado, mas que Deus deseja nos lembrar de sua importância.

Sim amigo, o mundo te enganou, e isso ele faz diariamente. Ele nos diz: você precisa disso ou daquilo para ser pleno, feliz, para que não te falte mais nada, mas na verdade é tudo uma bela ilusão. Adquirimos tudo isso e o vazio não se vai e aí somos arrastados para outra coisa, pessoa, relacionamento, emprego, empreendimento para suprir a carência que o anterior não pôde suprir e assim cambaleamos em um mundo caído e arruinado.

Quando estamos dentro dessa realidade e afirmamos ser cristãos o desafio se torna maior. As promessas de abundância não nos satisfazem, elas muitas vezes se tornam utopia diante do sistema, mas quem te disse que uma vida abundante tem a ver com efemeridades? Sim eu sei, foi o mundo, não a Bíblia. Mas muitas vezes nosso cristianismo passa longe das Escrituras, preferimos os coach, os visionários que de seu vazio das Escrituras nos enchem de ventos de bonanças quando eles não os controlam, Elifaz já os questionava em seu tempo (Jó. 15. 2,3). Transitoriamente parece que até funcionam, vendem livros vazios para vidas vazias, sedentas por algo que as preencham de verdade e quem sabe assim elas não precisem ir novamente ao poço (Jo. 4. 15), as vezes estamos com a Água Viva ao nosso lado, mas ainda fascinados com o poço, cordas e canecas e sua história antiga que não faz nada por ninguém.  

Tenho refletido bastante nestes últimos anos sobre a doutrina Bíblica do contentamento. Ela que não significa aceitar o fracasso, ou como alguém queiram pensar: “Deixar que a vida, ou o acaso” dê conta de colocar tudo em ordem, ou o simples desapego das coisas, o segrego não é o desapego, mas a não dependência. Não somos como os estoicos [1]que propunham eliminar toda emoção e sentimento até o ponto que qualquer coisa que acontecia, seja com respeito à própria pessoa seja em relação a outros, não lhes causava nenhuma preocupação. Epicteto dizia: "Comece com uma taça ou algum utensílio caseiro; se se rompe diga: 'não tem importância'. Continue com um cavalo ou um cão mulherengo; se algo lhe ocorre diga: 'não tem importância'. Continue consigo mesmo e se é ferido ou prejudicado de algum modo diga: 'não tem importância'." A aspiração dos estoicos consistia em abolir todo sentimento e emoção do coração humano. Não é isso que o Cristianismos Bíblico ensina.

O que precisamos entender por contentamento está mais ligado a felicidade que independe do que se tem. [2]O adjetivo "contente", na verdade, significa "contido, calmo". É a descrição de um homem cujos recursos encontram-se dentro dele, de modo que não precisa depender de substitutos externos. O termo grego significa "autossuficiente" e era uma das palavras prediletas dos filósofos estoicos. Mas o cristão não é autossuficiente; sua suficiência encontra-se em Cristo. Uma vez que Cristo vive em nós, estamos à altura das exigências da vida.

Encontrar satisfação em Cristo ultrapassa as fronteiras do ter, ser ou poder, fala mais em um ser ligado ao que Ele é, vencer por sua vitória e ter do que vem Dele. Em nenhum momento Cristo nos ensinou facilidade ou viveu nela, pelo contrário, nos disse que servi-lo seria como carregar uma cruz (Mt. 16. 24), caminhar ao seu lado seria um risco ao ponto de perdermos a própria vida (Mt. 10. 39), mas também, que este seria o único caminho para se ter uma real revelação plena do Eterno (Jo. 14. 6). A máxima dita por Lewis continua valendo para hoje: [3]Se você quer que uma religião faça você se sentir realmente confortável então eu certamente não recomendo o Cristianismo.

Continua...



[1] BARCLAY, p. 99

[2] WIERSBE, p. 127

[3] LEWIS, p. 75


·        BARCLAY, William. Comentário bíblico no Novo Testamento. HAGNOS

·        WIERSBE. W. W. Comentário Bíblico Expositivo. GEOGRÁFICA

·        LEWIS, C. S. Deus no banco dos réus. THOMAS NELSON